Após 8 h de espera por vaga por tratamento, de seis dependentes saídos da cracolândia só dois foram internados
Levados em vans da Secretaria Municipal da Assistência Social para a AMA (Assistência Médica Ambulatorial) Boracea, na Barra Funda, zona oeste de São Paulo, usuários de crack esperaram ontem por oito horas para serem transferidos para clínicas de tratamento. Como não conseguiram vaga, voltaram para a cracolândia, na região central da cidade.
A reportagem acompanhou a trajetória de seis dependentes de crack levados à unidade da Barra Funda. Cinco chegaram à AMA juntos em uma van às 11h. Desses, dois foram transferidos no fim da tarde para o Said (Serviço de Atenção Integral ao Dependente) Heliópolis (zona sul), unidade de internação, um desistiu de esperar e foi embora e os outros dois ficaram à espera das vagas, sem sucesso, até as 19h -horário em que a AMA fechou. O sexto usuário de crack tirado da cracolândia chegou às 14h30. Como também não conseguiu vaga, foi às 17h30 a um albergue da prefeitura na Barra Funda.
Moradora da cracolândia há 15 anos, a cabeleireira Érica Aguiar de Lima, 29, ficou sem vaga.
Ela disse que ação de combate ao crack na região central, feita pela Polícia Militar desde a terça-feira da semana passada, contribuiu na decisão de procurar tratamento.
“Ficou perigoso. A gente não consegue nem dormir direito. Mas, o absurdo é eu ficar o dia inteiro e não conseguir vaga.”
Funcionários da AMA informaram que, por apresentar problema cardíaco, Érica terá de ser avaliada por um especialista, em outra unidade, para então ser liberada para internação em uma clínica.
Usuário de crack há três anos, o operador de telemarketing Luiz Claudio Jesus Braga, 31, perambula nas ruas da cracolândia há duas semanas.
Segundo ele, a ação da PM também contribuiu para que ele procurasse tratamento. “Vim para cracolândia depois de brigar com minha mulher. Saí de casa dizendo que ia para o trabalho e estou na rua até agora”, disse Braga, morador do Jardim Miriam, na zona sul.
Fonte: Folha de S. Paulo