Um leite rico em substâncias antioxidantes foi desenvolvido pela adição de óleo de girassol, selênio e vitamina E à ração das vacas. Além de verificar a melhora no estado de saúde dos animais e o aumento na produção de leite, os pesquisadores comprovaram a elevação no nível de antioxidantes no sangue das crianças que o consumiram.
A pesquisa foi realizada na Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP, em Pirassununga, a 200 km da capital. Embora outros estudos tenham sido feitos para melhorar o perfil nutricional do leite, este foi o primeiro a testar os benefícios em humanos, diz seu coordenador, Marcus Antonio Zanetti.
“Os minerais que podem ser alterados por meio da alimentação da vaca são o selênio e o iodo. Como o iodo já é acrescentado ao sal e como o selênio é deficiente na dieta dos brasileiros, optamos por ele”, conta Zanetti. A vitamina E foi acrescentada por ter efeito antioxidante complementar. O óleo de girassol potencializa a ação dos dois nutrientes no organismo.
Os antioxidantes ajudam a neutralizar o efeito dos radicais livres no corpo – grandes responsáveis pelo envelhecimento celular. Acredita-se que, por isso, eles fortaleçam o sistema imunológico e ajudem a prevenir doenças como câncer.
“Entre as vacas suplementadas, houve redução nos casos de mastite, uma das doenças que mais afetam esse animal. Nas crianças não foi feito estudo imunológico, mas também pode haver melhora na resposta contra as doenças”, afirma Zanetti. Os antioxidantes melhoraram a capacidade de conservação do leite.
Metodologia – Os pesquisadores dividiram 24 vacas em quatro grupos. O primeiro recebeu ração comum e o segundo, ração com selênio e vitamina E. O terceiro recebeu ração enriquecida apenas com óleo de girassol e o quarto, com óleo de girassol, selênio e vitamina E.
Ao longo de 12 semanas, o leite ordenhado foi fornecido a cem crianças de 7 a 10 anos de uma escola no município vizinho de Casa Branca (SP). A participação no estudo foi voluntária e consentida pelos pais.
Além dos quatro tipos de leite do experimento, também foi oferecido às crianças leite desnatado. Aquelas que ingeriram o leite de vacas suplementadas com óleo de girassol, selênio e vitamina E foram as que obtiveram mais benefícios: aumento de 160% na concentração de selênio no sangue e 45% na de vitamina E, quando comparadas ao grupo controle.
As crianças que ingeriram leite desnatado tiveram o pior resultado: redução de 15% no nível de vitamina E e 20% no nível de selênio. “Por outro lado, apresentaram índices mais baixos de colesterol”, diz o pesquisador.
Custo – Zanetti afirma que o custo do leite fortificado é viável comercialmente – cerca de 4% a mais que um leite tipo A comum.
Jorge Rubez, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite, afirma que a viabilidade comercial vai depender da aceitação do mercado. “Se houver procura e pessoas dispostas a pagar um pouco mais, aí decola.”
Rubez conta que grande parte do volume de leite produzido em São Paulo vai para programas sociais do governo. “Seria interessante distribuir esse leite enriquecido para as crianças mais carentes.”
Embora considere interessantes as iniciativas para fortificar alimentos, o presidente da Associação Brasileira de Nutrologia, Durval Ribas Filho, diz que é preciso ficar atento para que não haja excessos. “Antes, acreditava-se que não dava problema consumir vitaminas demais. Hoje já se sabe que isso pode ter efeito contrário do desejado, ou seja, efeito pró-oxidativo.”
Fonte: O Estado de S. Paulo