PM escolta procissão do crack no 1º fim de semana de ocupação do centro

A estratégia de impor dor e sofrimento aos dependentes criou uma situação inusitada no primeiro sábado após a ocupação da cracolândia, no centro de São Paulo.

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Sem conseguir cortar tráfico, restou seguir a caminhada forçada dos viciados; moradores reclamam de novos pontos

A estratégia de impor “dor e sofrimento” aos dependentes criou uma situação inusitada no primeiro sábado após a ocupação da cracolândia, no centro de São Paulo. Com o tráfico a todo vapor e sem conseguir cortar a rota de fornecimento da droga, restou à PM escoltar pelas ruas centrais da cidade grupos gigantescos, de até cem pessoas, em uma estranha “procissão do crack”, iluminada pelos Giroflex das viaturas noite adentro. O Estado acompanhou a “peregrinação” entre as 20h e as 23h.

A perseguição aos usuários criou uma “cracolândia itinerante” no quadrilátero entre as Avenidas Duque de Caxias, São João e Ipiranga e Estação da Luz. Em alguns momentos de “folga” na caminhada forçada imposta pela polícia, os grupos paravam para acender os cachimbos e descansar. Depois de alguns minutos, voltavam a andar. Sem destino.

Em uma dessas pausas, uma moradora da Avenida Duque de Caxias, perto da Praça Júlio Prestes, atravessou a rua em meio a dezenas de dependentes e cobrou dos policiais que estavam na outra calçada que fizessem alguma coisa para tirar o “rebanho” da frente de seu prédio. “Nem vocês (PMs) estão dando conta. Antes, eles ficavam escondidos. Agora, ninguém tem sossego. Tem de achar algum lugar para levá-los”, bradava a mulher, irritada.

Depois de notar a conversa entre a moradora e os PMs, os próprios usuários seguiram alguns metros para frente, liberando a entrada do prédio. Segundo a polícia, raiva mesmo eles sentem é da imprensa. “Eles acham que a gente só está aqui por causa de vocês”, disse um policial.

Descrença – Os próprios policiais parecem cansados da “procissão do crack”. “Enquanto a droga estiver chegando aqui, não tem jeito. A gente só vai enxugar gelo. Honro a minha farda, faço o meu trabalho, mas não sou ingênuo. Tem corrupção policial, colaboração de comerciante, muita gente envolvida, muita grana nisso aí. Tem de cortar o mal pela raiz”, afirmou um PM logo depois de abordar dois jovens suspeitos em uma das esquinas do bairro.

O cansaço e a falta de perspectiva também foram relatados por outros policiais e guardas-civis metropolitanos, que perderam a fé no resultado final e estão apenas “cumprindo ordens”, segundo eles mesmos.

Foram deslocados PMs de vários batalhões da cidade para atuar na ocupação da cracolândia. Alguns lembram que nos próprios bairros onde vivem ou trabalham também há tráfico e consumo indiscriminado de crack.

Apreensão – A PM apreendeu entre a terça-feira e a tarde de ontem pouco mais de 200 gramas de crack. Foram detidas 42 pessoas. Os números são modestos. A quantidade de droga recolhida pela polícia durante cinco dias de operação é equivalente ao que os usuários consomem em poucas horas nas ruas da região central. Mesmo depois da ocupação da última terça, em todo canto, há alguém acendendo o cachimbo, abastecido por traficantes frequentemente, mesmo a 30 metros das viaturas. A cracolândia não vive uma “crise de abstinência”, como imaginavam as autoridades antes de impor a ocupação.

Além das proximidades da Duque de Caxias e da Praça Princesa Isabel, os usuários também se aglomeraram durante a noite na Rua Apa. Não é novidade o consumo no local, que já abrigou até mesmo uma imagem da “Nossa Senhora do Crack”, do artista plástico Zarella Neto, mas espanta agora a quantidade de pessoas nas calçadas, superior ao que vizinhos já estavam acostumados. Na noite do sábado, cerca de 50 usuários tomavam a calçada na esquina com a Rua General Júlio Marcondes Salgado, com cachimbos acesos.

Fonte: O Estado de S. Paulo

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