Nobel de Medicina premia pesquisador que já morreu

O anúncio do Prêmio Nobel em Fisiologia ou Medicina deste ano foge do roteiro habitual: é a primeira vez desde os anos 1970 que um pesquisador já morto compartilha a láurea.

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Canadense de 68 anos tinha câncer, que o vitimou na sexta-feira passada

O anúncio do Prêmio Nobel em Fisiologia ou Medicina deste ano foge do roteiro habitual: é a primeira vez desde os anos 1970 que um pesquisador já morto – e que usou as descobertas que fez para tratar sua doença – compartilha a láurea.

Nem a organização do prêmio sabia que o canadense Ralph Steinman tinha morrido na última sexta, aos 68 anos, de um câncer no pâncreas. Mesmo assim, a Fundação Nobel confirmou que metade do prêmio total de 10 milhões de coroas suecas (cerca de US$ 1,5 milhão) irá para a família de Steinman.

Junto com o americano Bruce Beutler, do Instituto de Pesquisa Scripps, e Jules Hoffmann, nativo de Luxemburgo, Steinman ajudou a decifrar as minúcias do sistema imune (de defesa) do organismo, trabalho que começou com animais de laboratório e chegou aos humanos.

Os resultados dessa compreensão estão começando a aparecer. São formas novas e promissoras de produzir vacinas, ensinando o organismo a reagir de forma mais precisa quando for atacado.

Outra possibilidade é fazer com que o próprio corpo destrua tumores, fazendo com que ele “entenda” de que se trata de um inimigo lá dentro. Ou, no caso das doenças autoimunes, em que o corpo tem ação autodestrutiva, seria viável deter o processo.

Linhas de defesa
O sistema imune, como todo exército, tem duas principais linhas de defesa contra invasores microscópicos.

A primeira, cujo funcionamento foi estudado por Beutler e Hoffmann, é a da chamada imunidade inata.

Como o nome diz, o organismo, nessa fase da luta, não precisa conhecer o inimigo de forma específica para montar sua defesa. Basta que moléculas do micróbio ou vírus grudem em receptores (fechaduras químicas) conhecidos como TLRs, que ficam na superfície das células.

Com isso, o organismo pode iniciar uma resposta inflamatória e atacar o invasor. Mas é por meio de uma célula descoberta por Steinman que o corpo “memoriza” os invasores e consegue atacá-los de forma específica.

Trata-se da célula dendrítica, que capta informações bioquímicas vindas dos invasores e as apresenta para outras células do corpo.

Essas, por sua vez, são as responsáveis por atacar os inimigos, seja destruindo células infectadas, seja produzindo anticorpos.
 

Fonte: Folha de S. Paulo

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