Em busca de mais proteção

Um dos vencedores do Nobel de Medicina 2011, norte-americano conta ao Correio como planeja usar o prêmio para fazer sua pesquisa sobre a imunidade humana avançar ao ponto de obter novos ...

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Um dos vencedores do Nobel de Medicina 2011, norte-americano conta ao Correio como planeja usar o prêmio para fazer sua pesquisa sobre a imunidade humana avançar ao ponto de obter novos tratamentos para doenças inflamatórias, como o lúpus

As aspirações de um Prêmio Nobel de Medicina vão muitas vezes além do imaginável. O norte-americano Bruce Beutler, 54 anos, espera desvendar o sistema imunológico, “peça por peça”. Pouco mais de 24 horas após saber que havia sido contemplado pela Academia Real das Ciências da Suécia, ele retornou a ligação do Correio e falou com exclusividade sobre sua descoberta dos receptores de lipopolissacarídeos (LPS). Essas moléculas funcionam como sensores da imunidade inata: ativam o sistema de defesa, ante a presença de micro-organismos invasores. Em 1998, Beutler e seus colegas descobriram que ratos resistentes ao lipopolissacarídeo – um produto bacteriano – apresentavam uma mutação em um gene quase idêntica ao gene Toll, presente nas moscas-da-fruta (drosófilas). Esses receptores do tipo Toll (TLR) se colam aos lipopolissacarídeos e disparam sinais que podem causar inflamação ou mesmo choque séptico. A inflamação, por sua vez, é uma tentativa do corpo de expulsar micro-organismos invasores.

Para chegar aos receptores LPS dos mamíferos, Beutler demorou cinco anos e enfrentou uma série de dificuldades. Ele não esconde o potencial da pesquisa e acredita que ela pode levar ao tratamento de doenças inflamatórias, incluindo o lúpus. Como o mais novo Nobel de Medicina – honraria dividida com o canadense Ralph Steinman (morto na sexta-feira passada) e com o luxemburguês Jules A. Hoffman -, Beutler espera avançar seus estudos. O objetivo é chegar até próximo ao “ponto de saturação” da genética como forma de descobrir o funcionamento integral da “máquina” de imunidade humana.

O senhor imaginava que um dia fosse contemplado com a maior honraria da ciência no mundo?
Da forma como temos trabalhado pelos últimos 28 anos, o método que utilizamos foi bem progressivo. Vi várias teorias sobre a imunidade inata que se mostraram falhas. Eu realmente não esperava o Nobel de Medicina, pois ganhei outros prêmios que outras pessoas consideravam previsíveis. Ninguém pode prever um Prêmio Nobel. Eu me senti muito, muito honrado.

Quando percebeu que sua pesquisa estava no caminho certo?
É uma pergunta interessante. Nesse caso, foi algo que aconteceu de uma vez, em 1998. Eu trabalhava havia cinco anos para encontrar, nos mamíferos, os receptores do tipo Toll (proteínas que desempenham um papel-chave no sistema imunológico) e os receptores LPS. Foi uma busca difícil, com uma descoberta falsa após a outra. Em um particular fim de tarde de verão de 1998, ao vasculhar uma região na qual esses receptores deveriam estar, nós vimos o gene e rapidamente percebemos tratar-se daquele que estávamos buscando. Foi um momento emocionante.

O senhor desvendou a linha de frente da defesa do organismo. Quais foram os sensores da imunidade inata descobertos por sua equipe?
Nós os chamamos de receptores do tipo Toll. Eles são similares aos receptores Toll das drosófilas, as moscas-da-fruta. Eles são importantes porque, coletivamente, eles detectam quase todo tipo de micróbios com os quais você pode entrar em contato. Se você não possui receptores do tipo Toll, você tem um alto grau de comprometimento imunológico. Tais pessoas e animais geralmente não sobrevivem por muito tempo sem antibióticos. Eles são definitivamente importantes para a sobrevivência.

Como o senhor percebeu que os mamíferos e as moscas-da-fruta usam moléculas semelhantes para ativar a imunidade inata?
Essa é a diferença entre o trabalho do doutor (Jules) Hoffmann e o nosso. Ele trabalhou com as moscas e descobriu que os insetos mutantes – com mudanças no gene Toll – eram um problema no manejo de uma infecção por meio de fungo. Nós, por outro lado, trabalhamos com mamíferos. Procuramos receptores LPS. Sabíamos que esses receptores eram importantes para manejar infecções por bactérias gram-negativas. Quando usamos moléculas similares aos receptores do tipo Toll, vimos que sistemas paralelos vinham sendo preservados há muito tempo, durante a evolução.

Qual é o potencial dessa descoberta para o tratamento de doenças complexas?
Eu creio que ele seja muito alto. Ainda é muito cedo, mas esses receptores acionam fortes informações, capazes de conter infecções. Você tem que pensar que muitas doenças inflamatórias dependem dos mesmos caminhos. Então, bloqueá-los pode ser algo bem útil no tratamento de doenças, como o lúpus.

Que transformações o Nobel de Medicina deve produzir em sua rotina?
Oh, tudo já está mudando muito! Eu nunca recebi 1,5 mil e-mails num único dia. Tenho o meu telefone tocando de forma contínua. Eu espero que, de alguma forma, possa usar o prêmio para aprimorar minha própria pesquisa. Que essa seja uma oportunidade de contato com os melhores pesquisadores.

E quais seus planos profissionais? Os próximos passos de sua pesquisa.
Nós usamos a genética como uma ferramenta para esmiuçar o sistema imunológico, parte por parte. Precisamos saber quais genes são necessários para uma resposta imune mais robusta. Essa é realmente a próxima meta, continuarmos com a genética até quase o ponto de saturação. Queremos saber todas as partes da “máquina”. E, a partir desse ponto, entenderemos como realmente a máquina funciona.

Fonte: Correio Braziliense

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