Taxa de cesárea na rede privada de SP chega a 82,6%

Maternidades incentivam práticas humanizadas, mas é preciso mudar a cultura

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Publicado em 02/06/2017, por Fabiana Cambricoli, O Estado de S. Paulo.

A taxa de nascimentos por cesariana na rede privada da capital supera em mais de duas vezes o índice registrado na rede pública, segundo levantamento da Secretaria Municipal da Saúde, com base nos dados de 2016. Enquanto nas unidades do SUS o porcentual de cesáreas é de 34,7%, nos hospitais particulares a taxa chega a 82,6%. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que apenas 15% dos partos ocorram com intervenção cirúrgica.

Nas maiores maternidades privadas da cidade, o índice beira os 90%. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendar que apenas 15% dos partos ocorram com intervenção cirúrgica. Segundo o médico Luiz Fernando Ferrari, vice-presidente do Sindicato dos Hospitais do Estado de São Paulo (Sindhosp) e diretor da Federação dos Hospitais do Estado (Fehoesp), as maternidades privadas têm tentado incentivar práticas mais humanizadas no parto, mas a mudança esbarra em questões culturais. “Além disso, o modelo de assistência atual é muito focado no médico. Muitas vezes, ele acaba agendando a cesárea.”

Foi o que aconteceu com a farmacêutica Carla Marchini Silva, de 34 anos, mãe de Ágatha, de 1 ano e 2 meses. Logo no início da gestação, ela foi informada pela obstetra sobre um problema no cordão umbilical que poderia aumentar o risco de uma hemorragia em caso de parto normal. Ao fim da gestação, com 38 semanas, agendou uma cesariana, seguindo orientação médica. “Eu até acho que dava para ter esperado mais um pouco e não era certeza de que ocorreria a hemorragia, mas não quis assumir o risco de alguma coisa acontecer comigo ou com minha filha.”

No grupo dos hospitais com maiores taxas de parto normal está o Tide Setúbal, na zona leste, uma das nove unidades municipais a desenvolver o programa Parto Seguro, fruto de uma parceria da Prefeitura com o Centro de Estudos e Pesquisas Dr. João Amorim (Cejam). “São várias ações: implementação de salas e UTIs humanizadas, formação de profissionais e promoção de visitas monitoradas de gestantes aos hospitais”, diz Alberto Guimarães, obstetra e gerente médico do Cejam para o Parto Seguro.

A atenção da equipe médica e de enfermagem do Tide Setúbal foi o que tranquilizou a vendedora Laryanne de Souza Silva, de 22 anos, no parto de Sophia, no dia 15. “Na primeira gestação, fiz cesárea. Desta vez, as enfermeiras me ajudaram.”

Médica agenda cirurgia antes de analisar exame
Se algumas mulheres optam pela cesárea por medo ou insegurança, há aquelas que amargam a frustração de ter passado pelo procedimento sem necessidade, por pressão do obstetra. Foi o caso da farmacêutica Ana Amélia Fracalossi, de 36 anos, que teve a filha Elisa, hoje com 2 anos e 11 meses, em uma cesariana agendada.

Na reta final da gestação, após fazer exames de rotina e ser informada pela médica do laboratório que todos os sinais vitais da bebê estavam ótimos, Ana Amélia foi ao consultório de sua obstetra para mostrar os resultados, mas recebeu parecer diferente. Ao ler os mesmos laudos, a médica disse que o parto deveria ser feito imediatamente porque haviam sido detectados problemas na placenta e no líquido amniótico. 

O que a médica não sabia é que, antes de entrar no consultório para mostrar os exames, a paciente havia sido informada pela secretária que a cesárea havia sido agendada para o dia seguinte. “Acho que não era para a secretária ter me dito. Fiquei confusa, mas na hora são tantos hormônios e emoções que eu não sabia o que fazer. Como eu iria procurar outro médico aos 45 minutos do segundo tempo?”

O parto cesáreo foi feito, mas Elisa nasceu com a síndrome do pulmão úmido, que traz problemas respiratórios. “É uma síndrome típica de cesárea. Minha filha ficou nove dias na UTI, não pude amamentar. Fiquei triste”, conta. A menina se recuperou, mas a confiança de Ana Amélia na médica foi quebrada. “Ela era minha ginecologista desde meus 11 anos, mas optei por nunca mais voltar lá.” 

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